segunda-feira

Apresentação - Professora Regina Almeida

Às 10h, do dia 20 de novembro de 2010, teve lugar, no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, a sessão solene de posse do associado Roque José de Oliveira Camêllo.
Insistente e repetidamente convidado por distinguidos membros da casa, em oportunidades e períodos diversos – 1985, 1991, 1992 e 2009 – para associar-se, como membro efetivo ao Instituto, Dr. Roque, por reconhecidas razões, somente pôde empossar-se na Cadeira nº 66, cuja patrona é a Princesa Isabel, na data supracitada, atendendo, assim, o desejo dos associados de tê-lo ao nosso lado, enriquecendo-nos as ideias e fortalecendo-nos os ideais.
O número, a idade, o nível e a representatividade das pessoas que superlotaram o salão nobre do Instituto, naquela luminosa manhã de sábado, dizem do prestígio e da benquerença pública de Roque Camêllo. Mariana fez-se representar pelos mais diversos estratos etários e sociais. Autoridades e amigos de Belo Horizonte, de Santa Bárbara, de Ouro Preto, de Barra Longa, de Coluna, do Serro e de não sei mais quantas outras cidades e povoados mineiros ali estavam para abraçarem o amigo, dizerem-lhe da estima e do respeito que têm por ele e da alegria de verem sua competência, sua dignidade e respeitabilidade de homem público reconhecidas e valorizadas.
Os textos dos oradores que se fizeram ouvir na ocasião, e que tenho o prazer de apresentar aos leitores desta coletânea, incluindo aqui pronunciamento do Prof. Raymundo Nonato Fernandes, feito a posteriori, e a carta da vereadora Aida Ribeiro Anacleto, ambos os textos relativos ao evento, permitem-nos conhecer não só o rico curriculum vitae do Dr. Roque, sua formação acadêmica, suas atividades profissionais, mas também
e, sobretudo, fatos e feitos que lhe enriquem e dignificam a vida de cristão, de cidadão, de profissional do Direito, de professor, de político... Dr. Roque traz consigo não só a alma da histórica e religiosa Mariana, mas, igualmente, a alma de Minas, cívica, altiva, libertária – uma e outra visíveis na fraternidade cristã, na ética republicana e no elevado compromisso cívico que sempre norteiam seus atos, particularmente aqueles voltados para o desenvolvimento de sua terra e a promoção de sua gente.
O texto do Dr. José de Anchieta, ilustre associado do IHGMG, designado para saudá-lo, se nos apresenta como um monumento jurídico e literário, estruturado nas profundezas do saber técnico e nos altos voos da criatividade. Conteúdo e forma nele atingem o zênite. Deve ser lido, relido e anotado com reverência e respeito. Está destinado a fazer memória, se já não o faz, nas lides judiciais. É lê-lo, encantar-se, bater palmas à sentença proferida e conceder ao Dr. Roque “o merecido bálsamo do desagravo”, como faz o autor.
A voz da juventude de Mariana fêz-se ouvir pela palavra patriótica, esclarecida, entusiasta e responsável de Cristiano Silva Vilas Boas, bacharelando em Direito pela UFOP. Cristiano faz “em alto e bom som” duas declarações comoventes. A primeira: Os jovens marianenses têm Dr. Roque como uma referência afirmativa...” que os inspira a lutar, a estudar, a trabalhar, a vencer e a crescer como pessoas de bem, a seu exemplo”. A segunda: propõem-se, os jovens, a manterem a utopia de um dia “fazerem por Mariana o que Dr. Roque fez e ainda faz”. E conclui: “Esse é o nosso compromisso”. Mais não devo dizer porque, diante disso, a leitura do texto se faz imperativa.
O texto “Roque Camêllo, guardião e protetor de Mariana”, da lavra de Danilo Gomes, membro da Academia Mineira de Letras, lido na ausência do autor pela jovem Ingrid Lara, é um comovente resumo biográfico das glórias e agruras do Dr. Roque. Vem revestido de afeto, de coragem de dizer a verdade e enriquecido das palavras de Anis José Leão, eminente jurista, especialista em Direito Eleitoral, que assim diz em seu memorável artigo “Prazo sem Prazo”: “Conheço Roque. De tudo que vi nele, sei dele e conheço dele e da opinião de outros sobre ele, é um príncipe, luz do mundo, sal da terra; é indescritível sua paixão por Mariana, pela cidade por quem ele carrega água no balaio. Difícil haver rival para ele, na luta pela urbe”. A leitura entusiasmada, forte e vibrante da promissora comunicadora, Ingrid Lara, deu real expressão e vida ao texto, cujo conteúdo e estilo dizem muito da firmeza de caráter, do espírito de justiça e da elevada competência técnica e literária de Danilo Gomes.
Professor Raymundo Nonato Fernandes, falando em outro momento, traz-nos à reflexão as “delações premiadas” de ontem, referindo-se a Tomás Antônio Gonzaga, Tiradentes, Arthur Bernardes e o que vem acontecendo hoje. Seu texto é expressão de sólida e ampla cultura, construída sobre os alicerces seguros da História, da Filosofia, da Literatura, da Liberdade, do Civismo... E, ao concluir a exposição sobre a história de vida do homenageado, vale-se das palavras de Garcia Lorca para arrematar e diz: “Roque José de Oliveira Camêllo, que se põe ao lado de celebrados e ilustres filhos de Mariana, honra essa tradição de um berço nobre que representa, engrandece e nos faz lembrar aquele ser humano a que se referia Garcia Lorca a dizer: “vai demorar muito para nascer, se é que nasce, um homem como ele.”
A fala do empossando é um antológico discurso de posse que só faz confirmar os dizeres dos oradores que o precederam, no que respeita à sua vasta cultura, à grandeza de sua vida de homem público, à sua natural liderança política, à afetuosa devoção à terra e à gente marianense e às invejáveis qualidades de sua personalidade: serenidade, honestidade, discrição, amenidade, gratidão...
O texto vem recheado de agradecimentos muitos a muitos e de preciosas e ricas informações sobre a patrona – a Princesa Isabel. Caminhando com a História, desde a fundação de Mariana até o Segundo Império, Dr. Roque destaca ações dos antepassados e do pai da Princesa – ações em que Mariana, Minas e o Brasil se fazem presentes e beneficiárias. Com propriedade e oportunidade, pinça fatos e passagens que bem dizem da vida, dos sentimentos, da grandeza do coração, das alegrias e tristezas da “Redentora”, que morreu exilada, desejando ardentemente retornar à pátria amada.
Com comentários e análises históricas sobre os regimes monárquico e republicano, Dr. Roque passa às considerações finais, não sem antes lembrar a feliz coincidência da data de sua posse - 20 de novembro – “Dia Nacional da Consciência Negra”, em memória à morte de Zumbi, o grande líder do Quilombo dos Palmares.
Proclamando sua patrona maior que uma rainha, porque redentora de um povo negro sofrido, Dr. Roque encerra seu alentado discurso, aplaudido de pé, e por longo tempo, pela assembleia. O texto, sem dúvida, merece leitura atenta, que se torna prazerosa, em razão da qualidade do conteúdo, da elegância do estilo e da correção da forma.
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Não sei se escrevi mais ou menos do que devia. O que escrevi, e como escrevi, fí-lo com a intenção de oferecer aos leitores desta coletânea um “aperitivo” para que possam saborear, com prazer, o variado menu intelectual preparado para a posse do cidadão, do intelectual, do político, do marianense Roque Camêllo.
O respeitoso e histórico banquete está servido. Convido-os, leitores, a saborearem as ricas iguarias. Estou certa de que vão deliciar-se.
Professora Regina Almeida
Cadeira nº 95 - Patrono: Antônio Olyntho dos Santos Pires
Verão de 2010 e 103º ano de fundação do IHGMG